Alessandra Morgado
Como qualquer outro negócio, o sucesso na cafeicultura
depende de uma série de fatores, sendo que alguns deles podem ser controlados e
harmonizados com uma boa gestão e a racionalização de procedimentos, uso de
tecnologia de ponta e insumos adequados, além da observância às normas legais.
Ter a casa arrumada pode parecer complicado inicialmente e/ou gerar gastos, mas
ao longo do tempo vira rotina e facilita manutenção e a visão equivocada de
‘gastos’ passa a ser encarada como investimentos em melhorias de processos e
capacitação de pessoal, gerando resultados positivos no rendimento da
propriedade.
Pelo uso de boas práticas agrícolas, ações sociais e
ambientais e uma nova postura de gestão porteira adentro, os princípios da
certificaçãoRainforest Alliance CertifiedTM
resultam em ganhos para a propriedade, os gestores, trabalhadores, a
comunidade e o ambiente em geral. Se todos ganham, o maior beneficiado é mesmo
o consumidor tem a opção de um produto ambientalmente e socialmente corretos.
Muitos produtores brasileiros ainda desconhecem os
benefícios da certificação que já existe há uma década no país, mas o estudo
Certificação Socioambiental é Vantagem Econômica dentro da Fazenda esclarece de
vez esse imbróglio.
Resultado da tese de doutorado de Dienice Bini, da
Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São
Paulo), o trabalho comprova que as fazendas de café certificadas tiveram
aumento renda de R$ 2.412 por hectare, após a certificação, em relação às
fazendas não certificadas, o que impactou positivamente a receita bruta. A
diferença vem do aumento na produtividade das fazendas certificadas – 9,4
sacas/ha contra 2,5 saca/ha das não certificadas–, sendo que não houve mudança
no custo de produção e nem no preço do café certificado.
Tharic Galuchi, coordenador de certificação do Imaflora®
(Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), a primeira
certificadora brasileira do Rainforest Alliance Certified™, destaca que a norma
avalia parâmetros de gestão, sociais, ambientais e o uso de boas práticas
agrícolas. Sendo que na gestão estão incluídos procedimentos administrativos,
registros, plano de atividade, rastreabilidade, treinamentos, entre outros.
“Isso é possível de ser feito por todo tipo de produtor. No mundo, aproximadamente
80% dos produtores certificados são pequenos, com mão de obra familiar”, diz
Galuchi.
Com a certificação ocorre o aprimoramento da gestão com
um olhar atento à legislação trabalhista e foco na conscientização da equipe
sobre higiene, saúde e meio ambiente. Sob a orientação da norma NR-31 e a
observância do uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual),
administradores e trabalhadores têm condições de trabalho e infraestrutura
adequadas melhorando o rendimento da equipe.
“Na área de saúde e segurança são verificados os cuidados
com o uso adequado de agroquímicos e a realização de exames médicos regulares,
além de infraestrutura. Tudo isso ajuda a reduzir riscos e desperdícios tanto
na fertilização do solo quanto na proteção da lavoura”, afirma Galuchi.
Fazer diferença
Além de segurança e saúde, deixar um legado, uma marca
positiva, é um dos ganhos impalpáveis da certificação, que olha a propriedade
como parte de um organismo maior. O negócio deve participar do desenvolvimento
e da melhoria da vida da comunidade em que está inserido, ou seja, ser bom
vizinho, promover a qualificação da mão de obra local, utilizar serviços e
profissionais da vizinhança e apoiar a educação. “As fazendas têm que ter um
projeto social que deixe benefícios na sociedade em que está localizada”, diz
Galuchi.
No quesito gestão da certificação ainda são observados
planos de atividades anuais, expectativas, rastreabilidade, treinamento de
pessoal, controles e procedimentos e os registros. Ou seja, o negócio deve ter
uma administração profissionalizada.
A conservação do ecossistema, sem desmate; a adequação ao
Código Florestal, o uso racional e não contaminação da água, proteção e
recuperação solo e o tratamento de resíduos são vistoriados periodicamente pela
certificadora, assim como os outros itens. Finalizando, a certificação também
garante que o produtor utilize boas práticas agrícolas, seja recuperando a
fertilidade do solo e de matas, usando adequadamente os agroquímicos e mantendo
a biodiversidade.
Atualmente, no Sul de Minas existem 41 produtores
certificados que somam (10.765ha), sendo que no país são 179.113 hectares de
café certificados RAS/ Rainforest Alliance. O setor tem grande potencial de
crescimento e os diferenciais podem influenciar no aumento das vendas e ajudar
a conquistar nichos do mercado, como o europeu.
Fazenda Sete Cachoeiras: foco na gestão
Na Fazenda Sete Cachoeiras Estate Coffee, certificada
desde 2004, os 800ha produzem em média 23 mil sacas de café. São 135
funcionários, entre trabalhadores rurais, tratoristas, mecânico, eletricista,
soldador, almoxarife e administrador. Na fazenda moram 11 famílias, sendo que
22 de seus membros trabalham no local.
O proprietário Marcelo Renato Brito afirma que o grande
benefício da certificação foi manter a equipe focada nos vários aspectos da
gestão, o que fortaleceu procedimentos de rotina e controle em geral.
“A certificação contribuiu para uma gestão sistêmica da
propriedade com padronização, treinamento e controle das atividades, além de
reflexos positivos na organização, limpeza e redução de retrabalho e
desperdícios”, afirma Brito.
Externamente, a Fazenda Sete Cachoeiras Estate Coffee
ganhou visibilidade e confiança do mercado e, em particular, dos clientes.
Brito afirma que a certificação oferece diferencial em relação às fazendas não
certificadas, com a qualificação do negócio para uma concorrência saudável em
seu nicho de mercado, que exige cada vez mais práticas sustentáveis de
produção. “Eu não só indico como recomendo aos produtores que busquem a certificação”,
resume o produtor.
Pelas mãos da diretora administrativa Carmem Lúcia Chaves
de Brito as Fazendas Caxambu e Aracaçu conquistaram a certificação Rainforest
Alliance Certified há um ano. A propriedade tem 42 funcionários e pertence a
cinco irmãos, que são a terceira geração da família ligada à terra e ao café.
Para a administradora, a certificação é um compromisso
assumido com seus clientes e uma postura ética, social e ambientalmente correta
diante do mercado. “A gente que nasceu debaixo de pé de café tem muito amor à
natureza e à terra, por isso a certificação demonstra nossa filosofia de
negócio: ser responsável pelo que se produz.”
Essas fazendas mineiras tinham um contexto diferenciado
com 210ha de café numa área de 368 hectares cheia de nascentes. Do total da
área, 50 hectares são de APPs (áreas de proteção permanente) numa região entre
960 e 1200m de altitude. O desafio era atender à norma e não deixar o negócio
inviável do ponto de vista econômico, mas Carmem e os irmãos tinham como meta o
selo e seguiram em frente. “Foi um processo que começou na mente e no coração
nosso e de nossos funcionários, somente depois na propriedade. Eu sempre tive
para mim que, apesar das outras certificações, faltava Rainforest, que
conseguimos há um ano”, explica ela.
Num cenário em que qualidade, responsabilidade e
confiança são essenciais, a certificação é caminho sem volta em que os vários
participantes da cadeia cafeicultora, que termina na xícara do consumidor,
contribuem com seu quinhão para que a única coisa amarga e sempre da melhor
qualidade seja a bebida, mas que os resultados de sua produção,
industrialização, venda e consumo sejam sempre doces para todos.
Sebrae é parceiro de quem quiser se certificar
A caminhada para a certificação na Região do Cerrado
Mineiro – região representa 12,7% da produção nacional e 25,4% da mineira-
conta com instituições como o Sebrae-MG, que dá apoio financeiro e técnico para
grupos de produtores interessados no selo.
Por meio da metodologia Educampo, modelo de assistência
gerencial e tecnológica intensiva, os produtores trocam experiências, discutem
a atividade, entendem as deficiências e potencialidades da produção de café e
acesso a novas tecnologias.
A analista de negócios do Sebrae-MG, Naiara Rodrigues
Marra destaca que essas ações levaram a
primeira certificação agrícola dos grupos de cafeicultores da região em 2009,
em parceria com a Expocaccer (Cooperativa de Cafeicultores do Cerrado).
“A certificação, apesar dos custos associados, permite
que pequenos produtores participem do mercado de cafés diferenciados. O
consumidor está cada vez mais exigente e quer qualidade, origem e,
principalmente, saber se o cultivo respeitou as boas práticas agrícolas.
Contudo, ele não consegue distinguir, mesmo após saborear a bebida, se ela
possui os atributos desejados. A certificação atesta os atributos contidos no
selo impresso na embalagem”, destaca a técnica.
Somente no ano passado cinco grupos de produtores da
região foram certificados, com apoio das associações e cooperativas em Monte
Carmelo, Araxá, Carmo do Paranaíba e Patrocínio.
O potencial da região é muito grande porque os 55
municípios reúnem 3.500 cafeicultores em 4.500 propriedades, que estão
distribuídas em 200 mil hectares de café. A produção da safra 15/16 foi de 7
milhões de sacas, o que torna a região referência mundial do café de alta
qualidade, também denominada Região Demarcada como Denominação de Origem.
É muito bom saber que nossos cafeicultores estão se profissionalizando e consequentemente colhendo os frutos de um bom trabalho.
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