Alessandra Morgado
Pioneira por agregar dimensões sociais, ambientais e
econômicas da agricultura no padrão de produção sustentável, a norma RAS (Rede
de Agricultura Sustentável/ Rainforest Alliance Certified®) foi revisada e uma
das principais mudanças foi adoção de uma visão de processo de melhoria
contínua. A nova versão começa a valer em 1º de julho. Produtores e técnicos em
certificação aprovaram a revisão.
Para o produtor, as mudanças permitirão planejar e
implementar num tempo maior – antes era necessário atender 80% da norma em um
ano, agora serão três anos na primeira fase - os itens previstos, como boas
práticas agrícolas, controles, gestão, programas de saúde e capacitação de
funcionários e proteção e recuperação ambiental.
André de Freitas, diretor-executivo da RAS, afirma que a
versão 2017 é mais clara e incorpora temas apoiados em avanços científicos, como
agricultura climaticamente inteligente e medidas contra o impacto de pesticidas
na fauna silvestre, incluindo os insetos polinizadores. Contudo, ele destaca
que o DNA da norma continua. “Uma das maiores mudanças foi estruturação da
norma em niveis, o que reconhece que sustentabilidade é um caminho a ser
percorrido.”
As alterações são incentivos para que produtores aderiram
à norma. Atualmente são certificados 1,2 milhão de produtores em mais de 40
países e com mais de 100 tipos culturas, o que compreende 3 milhões de
hectares.
Freitas disse que a certificação da RAS é uma ferramenta
para melhorar a sustentabilidade da agricultura, mas os desafios são enormes e
são necessárias mais ferramentas e abordagens para solucioná-los. “Temos visto
melhorias em produtividade, qualidade e preços dos produtos. Além disso, a
abertura de mercados, menor rotatividade de mão de obra e menor número de
acidentes de trabalho.”
Há 10 anos, o Imaflora (Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola) foi o primeiro certificador da norma RAS no
Brasil, sendo que na época os critérios da certificação representaram um avanço
histórico do setor agrícola.
Para Luís Fernando Guedes Pinto, gerente de certificação
do Imaflora, a norma melhorou ainda mais em termos de sustentabilidade e
inovação. “Esperamos que os empreendimentos certificados se tornem ainda
melhores e mais fortalecidos”, disse ele.
Um período de transição permitirá que os produtores façam
as adaptações de forma gradual e aumentem seu desempenho aos poucos. “Ele não
vai precisar fazer tudo de uma vez só o que facilita em muito para o produtor”,
destaca Pinto.
Do lado do produtor
Do lado do produtor, as expectativas também são positivas
e a flexibilização é um atrativo a mais para produzir café com qualidade e
respeito à biodiversidade, aos recursos naturais e ao ser humano.
Especialista em manejo ambiental em sistemas agrícolas e
consultor de certificação, que apoiou o Projeto de Sustentabilidade da
Nespresso, o engenheiro agrônomo Maurício de Souza Sobrinho afirma que a nova
norma RAS permite que os produtores cumpram os itens num prazo de três anos. Na
versão anterior era necessário atender aproximadamente 100 itens em 12 meses.
Souza Sobrinho explica que as questões trabalhistas e de
segurança no trabalho são grandes dificuldades enfrentadas por pequenos e
médios produtores. Outro entrave é a implantação de estruturas, compra de
equipamentos e os investimentos em segurança do trabalho, com exames periódicos
e treinamentos.
Mudar a forma de agir e o comportamento dos produtores é
a fase mais difícil da implantação da norma, a pesar do entendimento sobre os
benefícios das melhorias e a necessidade de mudar a metodologia de produção do
café. “A grande mudança da norma é que é mais inclusiva que a versão anterior”,
afirma Souza Sobrinho.
Novos mercados
Atualmente, Souza Sobrinho é consultor da Associação de
Pequenos Produtores do Cerrado que reúne 80 produtores. No ano passado, o grupo
teve safra de 45 mil sacas de café arábica. Atualmente, a Associação trabalha
com a certificação FairTrade, mas a expectativa é de aumentar mercado e obter
valor mais atrativo para venda com a certificação Rainforest Alliance
Certified®. “Nosso foco é no exportador porque tem quem pague
(diferenciadamente) pela Rainforest”, afirma Souza Sobrinho.
Mercado e produtores parecem indicar um caminho sem volta
para a busca contínua de produção aliada à sustentabilidade, meio ambiente,
qualidade de vida, trabalho e saúde da comunidade onde o café é produzido.
Essas são as bases da norma Rainforest Alliance Certified®.
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