Uma das pioneiras na área, no Brasil, foi a idealizadora
do primeiro programa de televisão dedicado ao tema, o Repórter Eco, no ar há 26
anos, pela TV Cultura e afirma: “a longevidade do programa mostra a atualidade
e a importância do tema”.
Radar – A Eco-92 foi um marco para o jornalismo
ambiental? Como você analisa o caminho da informação sobre o meio ambiente,
desde então?
Zuzu – A Eco-92 foi um divisor de águas, sem dúvida, até
por ter tido o Brasil como sede. Vários órgãos da grande imprensa se
mobilizaram para a cobertura e tivemos um saldo positivo, com a criação de
editorias ou cadernos especializados em meio ambiente, em diversos órgãos da
grande imprensa. Estimulou a especialização de diversos profissionais e parte
da cobertura que temos hoje ainda vem desse saldo.
Radar – E como o jornalismo ambiental vem dialogando com
a sociedade, desde então?
Zuzu – Olha, eu
nem sei se houve ou se há diálogo... Apesar do tema ser essencial, estar
presente na vida de todos, é difícil a sociedade percebê-lo em sua totalidade,
ou complexidade. Alguns aspectos dessa temática sensibilizam mais, mas pela
natureza do jornalismo diário, que corre contra o tempo, que trabalha com estruturas
enxutas, o tema acabou muito compartimentado. Temos profissionais excelentes,
já vimos cadernos especiais muito bons, mas o meio ambiente nunca teve a
importância que merece. Falamos muito em contextos de catástrofes, os dados
alarmantes sobre a camada de ozônio, depois os do aquecimento global, a
devastação da Amazônia, a incapacidade do Planeta de suportar os atuais níveis
de consumo. A ênfase na notícia negativa parece levar a uma anestesia e não à
ação efetiva.
Radar – Isso se aplica à Mariana? Como você analisa a
cobertura da imprensa no caso do rompimento da barragem da Samarco, em Bento
Rodrigues?
Zuzu - A cobertura desse caso entrou no mesmo contexto
dos casos de corrupção. O que deveria provocar a forte reação de uma Nação teve
uma repercussão momentânea, desproporcional ao tamanho da tragédia, porque a
morte de um rio tem um impacto enorme sobre o ecossistema, muito além do “rio que passa pela minha aldeia”. E
a dor e as tragédias pessoais dos trabalhadores e moradores de Bento Rodrigues,
que dois anos depois ainda vivem de soluções improvisadas, foi esquecida. Redes
independentes, portais, grupos, fizeram bons registros, mas a história de
Mariana ainda não foi contada. Temos essa dívida.
Radar – E você acredita que como essa e tantas outras,
muitas histórias deixarão de ser contadas? Ou é possível reverter isso?
Zuzu – Eu sou otimista. Não podemos ignorar que vivemos
um momento delicado no Brasil, de ameaças aos direitos dos povos indígenas, dos
quilombolas, às áreas de Unidades de Conservação, para citar apenas algumas,
entre tantas outras questões, muito graves. Vivemos uma transição. E essa nova
realidade, coloca novos desafios à comunicação como um todo, porque vai além da
imprensa. Mas, ao mesmo tempo em que vejo isso, vejo também uma série de
iniciativas locais e muito importantes, de grupos que se organizam para
documentar e discutir formas de resistência ao avanço sobre suas áreas, cultura
e modo de vida. E essa é a novidade que vai fazer a diferença.
ResponderExcluirDe fato! A possibilidade de se dar voz aos sujeitos inseridos nas tragédias ambientais, principalmente através das mídias sociais é um fenômeno novo nos meios de comunicação. Porém essas tragédias ambientais, na maior parte das vezes (para não dizer sempre), são protagonizadas por grupos poderosos que, por sua vez, são bem assessorados por agentes (agências, RPs e outros influenciadores de opinião) e que possuem trânsito nos meios de comunicação de massa. Nesse sentido o que vemos é um grande silêncio nos meios de comunicação de massa a cerca dos desdobramento dessas tragédias. Cabe questionar se a articulação das mídias sociais pode vir fazer frente aos grande grupos de comunicação.