quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Dia do Cerrado é oportunidade para discutir uso sustentável da terra no bioma, que já perdeu 50% de sua cobertura vegetal

Imaflora participa de soluções para a restauração do Cerrado.

Na próxima quarta-feira, dia 11 de setembro, é comemorado o Dia do Cerrado. Porém, mais do que comemorar, é o momento de lançar luz para as ameaças pela qual o bioma passa e para soluções que buscam sua restauração e uso responsável. Segundo maior bioma do Brasil, ocupando 24% do território, nas últimas décadas o Cerrado tem sido a principal área de expansão agropecuária e foi o bioma que mais sofreu alterações, tendo perdido metade da sua cobertura vegetal original.

Coautor do trabalho “A expansão da agricultura em remanescentes de vegetação nativa do bioma cerrado”, o engenheiro agrônomo Lisandro Inakake, coordenador de projetos na área de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), afirma que os impactos para o bioma "são inúmeros e ainda há muito a ser mensurado e qualificado. As alterações climáticas são um ponto muito importante. O desmatamento no cerrado já atinge 50% do bioma e há sinais de escassez de água para uso humano e para a manutenção das atividades agropecuárias". Lisandro lembra que, das 12 bacias hidrográficas do Brasil, oito possuem nascentes importantes no cerrado e abastecem grandes centros. "A correlação entre a mudança do uso do solo e a disponibilidade dos recursos hídricos está bem clara. Sem falar nas perdas para a biodiversidade. Um terço da biodiversidade brasileira, sendo quase 50% de espécies endêmicas, estão no cerrado", diz Lisandro.

Especulação imobiliária e grilagem de terras

Lisandro também destaca os interesses da especulação imobiliária na região. "É importante ressaltar que existem dois negócios nas fronteiras agrícolas: a atividade agropecuária e a imobiliária. No Matopiba (área entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) há grandes grupos, incluindo fundos de pensão e de investimentos estrangeiros, que adquiriram terras na região. São casos em que não existe necessariamente a intenção de produzir e, sim, de investir com a perspectiva de valorização da terra". O pesquisador explica que o processo de especulação imobiliária pode estar associado à grilagem de terras. "Isso provocou e ainda provoca consequências negativas, como o uso irresponsável dos recursos naturais, a expulsão das populações tradicionais do território de ocupação, contaminação de rios com agrotóxicos e outros fatores derivados desses", elenca Lisandro.

Imaflora: soluções para a conservação e restauração do Cerrado

Quando a Nespresso decidiu implementar um programa de qualidade e sustentabilidade em sua cadeia de fornecedores, composta por 2000 fazendas localizadas na região do Cerrado e também no sul de Minas Gerais, a empresa solicitou a assessoria técnica do Imaflora. O Instituto desenvolveu uma ferramenta única para a iniciativa, adaptando para as condições brasileiras as normas adotadas em fornecedores da América Central, onde o programa já tinha sido implantado, seguindo orientações da Rainforest Alliance.

“Nosso trabalho consiste basicamente em fazer uma análise minuciosa de riscos socioambientais de todos os elos da cadeia de suprimentos no campo. Com esse mapeamento é possível traçar planos de ação de normas de sustentabilidade que melhorem a performance socioambiental dos produtos”, explica Eduardo Trevisan, gerente de projetos do Imaflora. Os técnicos agrônomos que orientam os processos produtivos nas fazendas recebem treinamento do Imaflora. “Em visitas frequentes às propriedades rurais, esses técnicos são os agentes de rastreamento de cada etapa, da pré à pós-colheita”, explica Trevisan.

Ao adotar a sustentabilidade na produção, melhorando a qualidade dos grãos, os fornecedores que participam do programa recebem da Nespresso um pagamento acima do preço padrão do mercado, o que facilita a fidelização dos produtores ao programa. “Com nossa experiência queremos incentivar as empresas a atingir suas metas de boas práticas e divulgar a origem e a performance socioambiental de seus produtos”, afirma Trevisan.

O Imaflora também atua no Consórcio Cerrado das Águas, uma plataforma que reúne diferentes atores (produtores, marcas de café, ONGs ambientais locais e globais), cujos esforços resultaram na fundação de uma organização independente para promover o desenvolvimento ambiental através da restauração, da agricultura inteligente e da gestão eficiente de recursos hídricos. Recentemente o Consórcio Cerrado das Águas lançou o Programa de Investimento no Produtor Consciente, que visa conservar a biodiversidade e o fornecimento de água na Região do Cerrado Mineiro. O projeto piloto está sendo implementado na bacia do Córrego Feio, localizada no município de Patrocínio, Minas Gerais, o principal produtor de café no Brasil. 

Junto com o Consórcio Cerrado das Águas, o Imaflora também produziu dois guias voltados para os produtores da região: o Guia deRestauração para o Cerrado Mineiro: Como Recuperar e Conservar sua Fauna e Flora; e Boas Práticas de Produção de Café: Serviços Ecossistêmicos e Serviços Ambientais.

Outra forma de atuação para a conservação e restauração do Cerrado é o controle das emissões de gases do efeito estufa em produções agrícolas. O Imaflora realizou o balanço das emissões de gases demonstrando das fazendas de café da cooperativa Monteccer, localizada na região do município de Monte Carmelo, em Minas Gerais, região do  Cerrado, referente à safra de 2017/2018. Segundo Ciniro Costa Júnior, coordenador de projetos da área de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora, o estudo apresentou as estimativas do balanço de emissões de gases de efeito estufa (GEE) pela produção de café em escala de fazenda de 34 propriedades da cooperativa.

As emissões de gases de efeito estufa das fazendas analisadas apresentaram uma média de -2.4 tCO2e por hectare por ano, ou -0.06 tCO2e por saca produzida. Isso significa um alto nível de sequestro de gases de efeito estufa. "Esse nível de intensidade de emissão por produto aponta que a Cooperativa Monteccer se posiciona entre os 5% mais eficientes sistemas de produção de café globalmente", aponta Ciniro. "O monitoramento do balanço de emissões de gases de efeito estufa é recomendado para fortalecer as evidências encontradas e identificar com maior precisão as correlações entre o manejo do café e oportunidades de mitigação de gases de efeito estufa, de forma a influenciar positivamente outros atores do setor à incorporar práticas sustentáveis, ser reconhecido pelo mercado devido ao papel desempenhado na prevenção das mudanças climáticas e no atendimento às demandas alimentares", explica.

Conforme explica Oséias Mendes da Costa, coordenador de projetos da área de Cadeias de Valor do Imaflora, os resultados se devem a diversas práticas, algumas já praticadas, outras recomendadas pelo Imaflora, como o uso de fertilizantes, o acompanhamento de um responsável técnico, análises de solo e folhas, juntamente com um conjunto de práticas sustentáveis na produção do café, envolvendo conservação do solo e de áreas vegetação nativa. "Estas práticas podem ser replicadas por outros produtores e cooperativas de café, impactando positivamente na conservação do cerrado", conclui.




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