quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Empresa social também pode lucrar, diz Imaflora

Por Andrea Vialli | Para o Valor, de São Paulo

Quando fundou o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), em 1995, o engenheiro agrônomo Luís Fernando Guedes Pinto tinha como desejo trazer ao Brasil o universo das certificações socioambientais, um terreno inexplorado à época. Não demorou muito para que a sigla FSC (Forest Stewardship Council), que certifica produtos florestais com manejo sustentável, se tornasse conhecida por aqui. Hoje o selo verde estampa de lápis a papel higiênico, passando pela madeira extraída de forma controlada na Amazônia - e ajuda a fortalecer a renda de 30 mil trabalhadores em 500 comunidades, de pequenos agricultores a ribeirinhos e indígenas.


O Imaflora introduziu no país outro selo bastante difundido na Europa, o Rainforest Alliance, voltado para itens agrícolas. Presente em produtos como cacau, café, laranja, açúcar e, mais recentemente, carne bovina, o selo atesta que o alimento foi cultivado com práticas que conservam o ambiente e a saúde dos trabalhadores.

O esforço de mostrar que é possível produzir com baixo impacto ambiental e alto ganho social rendeu ao engenheiro agrônomo e seu Imaflora um lugar na lista de seis finalistas do Prêmio Empreendedor Social, iniciativa promovida no Brasil pela Fundação Schwab - organização com sede na Suíça, criada por Klaus Schwab, idealizador do Fórum Econômico Mundial - em parceria com o jornal " Folha de S.Paulo ". A premiação tem o objetivo de destacar o trabalho dos empreendedores sociais - indivíduos que atuam como agentes de transformação, criando soluções inovadoras e de alcance para problemas atuais, como pobreza, degradação ambiental, saúde, educação, entre outros.

"O que caracteriza o empreendedor social é seu vínculo com a coletividade e seu esforço de inovar na busca por soluções para as demandas da sociedade. Ele pode ser o representante de uma ONG, de uma cooperativa ou de um negócio social", explica Patrícia Trudes da Veiga, editora de suplementos da "Folha de S.Paulo" e coordenadora do Prêmio Empreendedor Social.

Em sua oitava edição, a premiação bateu recorde de inscrições: foram 335 candidatos, de 24 Estados e do Distrito Federal, o que representa um crescimento de 23% em relação à anterior. De acordo com Patrícia, o aumento na participação sinaliza que o Brasil está sintonizado com o tema. "Percebemos que os projetos estão em um patamar muito elevado em termos de inovação, impacto social de suas atividades e potencial de influência nas políticas públicas", afirma, citando alguns dos critérios de avaliação do prêmio.

Em todo o mundo, a Fundação Schwab apoia 199 empreendedores sociais, que representam 174 organizações - há 39 iniciativas na América Latina.

Os finalistas desta edição, que inclui ainda o Empreendedor Social de Futuro (categoria voltada a líderes sociais com até três anos de atividade), atuam em áreas tão diferentes como a produção de softwares de computadores para deficientes visuais até o fortalecimento dos direitos dos povos indígenas. Uma tendência, porém, se destaca: o aumento da participação dos negócios sociais, que visam o lucro como qualquer outro negócio, mas acreditam que sua função primordial é causar impactos positivos na sociedade.

Administrar um negócio social também foi o caminho escolhido pelas turismólogas mineiras Marianne Costa e Mariana Madureira, que fundaram a Raízes Desenvolvimento Sustentável, empresa que trabalha com geração de renda no Vale do Jequitinhonha, a região mais pobre de Minas Gerais, por meio de dois pilares: o artesanato e o turismo de base comunitária, um nicho ainda pouco explorado no Brasil. O princípio do negócio é promover a melhoria da renda para 50 comunidades no Jequitinhonha, formadas principalmente por mulheres artesãs.

A empresa começou em 2009, com uma loja virtual que buscava ser um canal para comercializar o rico artesanato produzido na região. O capital inicial, R$ 35 mil, saiu do próprio bolso das sócias e foi usado para comprar 1.500 itens de artesanato e no desenvolvimento do e-commerce. Mas a falta de preparo das próprias artesãs do Jequitinhonha em trabalhar com grandes encomendas fez com o negócio não desse lucro.

A saída, conta Marianne Costa, foi rever a estratégica. "Como somos formadas em turismo, resolvemos direcionar esses conhecimentos para implementar um projeto de turismo de experiência e comunitário no Jequitinhonha", explica Costa. O foco é levar viajantes para passar alguns dias vivendo na casa das próprias artesãs, compartilhando de seu ofício, hábitos, história e culinária regional. A virada está dando certo, e os pacotes de turismo comunitário viraram o carro chefe da empresa. "Hospitaleiras por natureza, as mulheres do Jequitinhonha estão muito receptivas a esse novo modelo e fazem de tudo para receber os visitantes da melhor maneira possível", conta.

Para especialistas, a eclosão dos negócios sociais aponta uma nova etapa na gestão das questões socioambientais no mundo empresarial. Agora, a responsabilidade social e a filantropia corporativa deixam de ser os principais canais de atuação e as ações individuais ganham espaço. "É uma nova visão da responsabilidade socioambiental. Há um modernismo de atitude na criação dos negócios sociais, uma capacidade ímpar de gerir os recursos para gerar um benefício maior", afirma Sheila Villas Boas Pimentel, presidente do Instituto Humanitare, organização que busca aproximar a sociedade civil dos temas propostos pela ONU e fez parte júri do Prêmio Empreendedor Social.

Os vencedores serão conhecidos dia 7 de novembro, em cerimônia no Museu de Arte de São Paulo (Masp). A premiação consiste em mais de R$ 350 mil em benefícios, que vão de cursos de capacitação dos empreendedores, auditoria financeira, consultoria jurídica até bolsas de estudo no Brasil e no exterior. Esta edição do prêmio também introduziu uma novidade: os internautas podem ajudar a escolher o Empreendedor Social do ano em votação pelo site www.folha.com.br/empreendedorsocial, até segunda-feira. No próprio site, é possível conhecer os finalistas, que resumem suas iniciativas em vídeos de um minuto de duração. "A ideia é utilizar o poder das mídias sociais para ajudar a divulgar o conceito do empreendedorismo social no Brasil" explica Patrícia.

Fonte: Valor Economico

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