quinta-feira, 9 de maio de 2013

Além da rastreabilidade



Eduardo Trevisan Gonçalves

Recentemente, observamos várias iniciativas que visam garantir a origem dos produtos que são oferecidos aos consumidores. Mas uma análise mais apurada nos força a pensar o que realmente está sendo rastreado.

Não deveria ser orgulho para ninguém garantir que a carne ou o café venha de uma área sem desmatamento ilegal, livre de trabalho escravo ou ainda garantir que, naquela área específica, somente foram aplicados os agrotóxicos permitidos. Isso tudo é obrigação. Está na lei.

Talvez nós, os consumidores, estejamos muito acomodados, já que chegamos ao ponto de valorizar iniciativas e mercadorias somente por atestarem que, em seu processo produtivo, respeitaram as leis do país ou, às vezes, por até menos que isso: somente por terem sinalizado a intenção de virem a cumpri-las um dia.

A agropecuária está contaminada por essas iniciativas, nas quais se rastreia o simples básico -das fazendas ao varejo. Os produtores do Brasil, todavia, já mostraram que têm condições de oferecer muito mais garantias aos consumidores.

Este país é o líder em produção socioambiental certificada: café, suco de laranja, cana-de-açúcar e, mais recentemente, de carne e couro. Atualmente, são mais de 250 mil hectares sob bom manejo.

Sistemas de certificação de terceira parte, como é o caso do selo Rainforest Alliance Certified, garantem muito além do básico: por meio de auditorias independentes e pelo comprometimento dos produtores, as propriedades têm planos escritos e implementados para recuperação e conservação da biodiversidade, proteção dos recursos hídricos e garantias aos trabalhadores, como treinamento, moradias e salários acima da média local. São mais de cem diferentes critérios avaliados nas auditorias, anualmente.

Os produtores certificados não são tratados como simples fornecedores, mas, sim, como profissionais valorizados pelo alto padrão de desempenho socioambiental que atingem a partir de suas ações. Seus produtos são diferenciados, o que traz benefícios de imagem e mercado.

Embora boa parte destes produtos tenha destino internacional, uma iniciativa do Grupo JD, Imaflora, Marfrig e Carrefour disponibiliza em 13 hipermercados cortes nobres de carne com o selo Rainforest Alliance Certified. Também foi o caso da empresa italiana Gucci, ao confeccionar bolsas com couros da mesma origem.

Essas e outras ações, como a da ABPO (Associação Brasileira de Pecuária Orgânica), no Mato Grosso do Sul, demonstram que a cadeia produtiva da pecuária está se abrindo para novas oportunidades, buscando diferenciação e ferramentas de mercado que possam valorizar seus produtos.

Essas iniciativas oferecem aos consumidores brasileiros produtos rastreados de alto desempenho socioambiental e mostra como a união da cadeia produtiva pode gerar resultados também ao ambiente e àqueles que vivem do campo.

EDUARDO TREVISAN GONÇALVES, 36, engenheiro agrônomo, é secretário-executivo adjunto do Imaflora. A ONG faz parte da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário