sexta-feira, 9 de maio de 2014

Café certificado é coisa de engenheiro



Jefferson Adorno deixou o emprego como engenheiro eletrônico (e os congestionamentos) na capital paulista para apostar na sustentabilidade ambiental e econômica de um cafezal em Santo Antonio do Jardim, na divisa do estado de São Paulo com Minas Gerais. A família ganhou qualidade de vida. A terra ganhou resiliência. E os consumidores, um cafezinho muito mais saudável!

Quando Jefferson chegou, em 2000, a gestão da propriedade rural era tradicional, do jeitinho conduzido pelo pai em décadas, e do mesmo jeitinho adotado pelos vizinhos até hoje. O cafezal ocupava metade dos 128 hectares de terras e a outra metade era de pastagem para o gado leiteiro. A produção de leite logo encolheu e agora é mantida apenas para consumo próprio. Os investimentos foram canalizados para a modernização do cafezal, embora se mantenha a comercialização de alguns produtos secundários, como jabuticaba e mel.

Uma das primeiras providências do engenheiro foi dar início ao processo de certificação do café junto à Rainforest Alliance, certificadora sediada em New York, cujas prioridades são os impactos ambientais e sociais da propriedade, e junto à UTZ, uma certificadora holandesa especializada em cafezais, com interesse na rastreabilidade do café e na segurança alimentar.

As áreas de acesso do gado às 7 nascentes e 2 córregos que passam pela propriedade foram fechadas com cercas e Jefferson construiu bebedouros à sombra das árvores. Assim, pôde dar início ao enriquecimento das matas ciliares e ao reflorestamento ao longo do Córrego Jardim, que abastece a zona urbana depois de passar por ali.

Hoje a propriedade tem 27 hectares de vegetação nativa em franca recuperação e o engenheiro segue plantando com a ajuda do mel, que comercializa em entrepostos naturais e via internet. Dois frascos de mel vendidos correspondem ao plantio de uma muda de árvore nativa, uma maneira simpática encontrada pelo engenheiro para amortizar o alto custo da recomposição florestal na região.

Jefferson ainda fechou a descarga da lavagem do curral, que antes seguia direto para o curso d’água. E agora tem um tanque de 10 mil litros para captar e curtir os resíduos, transformados em fertirrigação para o café. 
“Durante alguns anos, a título de experiência, reguei um talhão de café com o chorume do curral e deixei outro igualzinho, ao lado, sem a fertirrigação”, lembra. “Não notei muita diferença na parte aérea da planta, mas um dia estava mexendo com uma máquina ali perto e resolvi abrir uma trincheira para ver as raízes desse café: elas tinham mais de 1,80 metro de profundidade, enquanto a do outro café, sem chorume, mal chegava a 50 centímetros”.

Se fosse para apostar na capacidade de um cafeeiro resistir às flutuações climáticas, não há dúvida de que aqueles pés regados a chorume levariam grande vantagem.

“Na adaptação do cafezal, uma grande dificuldade foi convencer o administrador a plantar capim nas entrelinhas do café”, conta. Para os cafeicultores tradicionais, qualquer “mato” no meio do café rouba a força, a água e os nutrientes do produto principal. Na verdade, não é nada disso: o capim é periodicamente roçado e espalhado nos pés de café como cobertura morta, ajudando a conservar a umidade e a fertilidade viva do solo. A presença dessa cobertura morta também reduz o crescimento de plantas invasoras e, consequentemente, diminui a necessidade de herbicidas.

Já o uso de fungicidas e inseticidas foi reduzido com a adoção do manejo integrado de pragas e com o monitoramento constante. O cafezal é periodicamente inspecionado e as pulverizações preventivas foram eliminadas. “Temos talhões que ficam 2 anos sem uma aplicação de fungicida, já ficamos até 3 anos sem aplicar inseticida. Se o produtor aplica sempre os coquetéis preventivos, conforme as instruções dos revendedores, ele nunca vai perceber que não são necessários”, alerta o cafeicultor.

Outra providência tomada foi o plantio de árvores para sombrear o café. “Não é qualquer árvore, precisa ter uma sombra mais ou menos permeável, de modo que o café mantém a produtividade, mas fica protegido do mau tempo”, ressalta. “Na região do Trópico de Capricórnio a sombra deve ser de 30%, mais ou menos”. Em 2011, uma forte geada serviu de teste para o sombreamento: os pés de café que estavam embaixo das copas das árvores nada sofreram, mas aqueles expostos perderam as folhas, houve quebra na colheita seguinte e alguns até secaram. Em janeiro de 2014, outra prova: os pés de café a pleno sol sofreram escaldadura (queimadura pelo excesso de calor) em 60% das folhas, enquanto no café sombreado a escaldadura atingiu somente 40% das folhas.

“Com o sombreamento do café não consigo fazer a colheita mecanizada perto das árvores e dependo da colheita manual, sendo que temos dificuldade de conseguir mão-de-obra, é caro”, diz Jefferson Adorno. “Mas o café sombreado tem mais qualidade e, com a certificação, é possível obter um preço um pouco melhor, então compensa”.

Veja mais fotos e vídeo em: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/agrisustenta/2014/04/03/cafe-certificado-e-coisa-de-engenheiro/

Fonte: AgriSustenta




 

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