quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Cético do clima, Trump não pode desafiar a economia

Donald Trump, um cético do clima, assumiu o governo dos Estados Unidos. O impacto da novidade ainda é indefinida, mas a eleição de Trump representa grande risco para o Acordo de Paris e todo o regime climático internacional. De imediato, abala as negociações de implementação do acordo em curso em Marrakesh, na CoP­22. Pode provocar grande estrago no já desajustado clima global que bate constantes recordes de anos cada vez mais quentes.

Trump disse durante a campanha que mudança do clima é um engano ("hoax", em suas republicanas palavras) e seguiu delirante ao afirmar que o acordo internacional era algo feito "por" e "para" os chineses. Prometeu cancelá­lo assim que assumisse o cargo.

Suas bravatas, se virarem realidade, serão climaticamente desastrosas. A campanha de Trump foi apoiada pelo lobby do carvão e do petróleo e ele prometeu facilitar novas explorações, assim como construir o controverso oleoduto Keystone, entre o Canadá e os EUA. É o desmonte da gestão Obama, que foi em direção contrária.

Segundo a revista "Scientific American", Trump já teria escolhido Myron Ebell, um conhecido cético do clima, para liderar a transição na agência ambiental americana, a EPA. Se isso ocorrer, a estratégia de Obama de relacionar mudança do clima a problemas de saúde e agir através de decisões da EPA, evitando passar pelo Congresso americano, cai por terra.

Foi assim que Obama conseguiu aprovar medidas para impulsionar as energias renováveis, limitar o avanço de termelétricas poluentes e controlar as emissões dos carros. A meta dos EUA de reduzir emissões de gases­estufa entre 26% a 28% em 2025 em relação a 2005 já estaria bem encaminhada.

A única boa notícia é que Trump é um enigma e pode não ser um obtuso completo aos humores do mercado. Fazer parte do Acordo do Clima é um bom negócio ­ ou a opção dos EUA será ficar para trás da China e da Alemanha na tecnologia das energias renováveis e da transição à economia do futuro? As questões, agora são duas: quanto sua presidência mudará o curso atual de descarbonização da economia americana e como a principal concorrente dos EUA, a China, irá se comportar. No acordo bilateral que Obama fechou com o presidente Xi Jinping em 2014, a China se comprometeu a aumentar a participação das renováveis em sua matriz em 20% em 2030. É um compromisso gigantesco. Seriam 1.000 gigawatts adicionais de energia nuclear, eólica e solar em 2030.

É mais do que todas as termelétricas a carvão que existem na China e próximo à capacidade total de geração elétrica dos EUA. O consumo do carvão vem caindo há três anos na China, que investe tão pesado em energias eólica e solar a ponto de derrubar o preço das renováveis no mundo. Diante disso, os EUA de Trump ficarão ancorados ao carvão, o sensacional combustível do século XIX?

Trump pode transformar tudo isso em um castelo de cartas e desmontar as ações de Obama com um sopro? Pode, claro. Mas a revolução econômica que o tratado prevê já está em curso, fora e dentro dos Estados Unidos. "Donald Trump está para se tornar uma das pessoas mais poderosas do mundo, mas mesmo ele não pode mudar as leis da física", disse, em Marrakesh, o veterano ambientalista americano Alden Meier. "Quando a água chega à sua porta, você se mexe. Não importa se você é republicano ou não", prosseguiu.

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