A produção de alimentos e o enorme potencial de sequestro
de carbono do solo têm sido apontados como estratégicos nas discussões entre
diversos setores da sociedade, envolvidos na busca de caminhos que tornem
viáveis os compromissos do Acordo de Paris.
Ciniro Costa Júnior, pesquisador da área de Clima e
Cadeias Agropecuárias do IMAFLORA, participou de dois encontros realizados na
França sobre o tema, representando a Coalizão Brasil Clima, Florestas e
Agricultura. O primeiro deles promovido pela Global Alliance for de Future and
Food e o segundo pela ONG americana Breaktrhough Strategies and Solutions.
Qual seria esse potencial e qual seria o impacto sobre as
mudanças climáticas foram algumas das perguntas que nortearam os debates, nos
dois encontros.
De acordo com o estudo americano, apenas a recuperação do
solo degradado em escala global, já seria responsável pelo cumprimento de 10%
da meta do corte de emissões de GEE, assumida pelos países que assinaram o
compromisso de limitar o aquecimento global a 2 ºC. Resultado na mesma direção já havia sido
obtido pelo IMAFLORA no trabalho “Boas práticas agropecuárias reduzem asemissões de GEE e aumentam a produção de carne na Amazônia”, divulgado no fim
de 2016 que chegou à conclusão semelhante. Com medidas como a recuperação de
pastagens degradadas em fazendas do Mato Grosso, verificou-se redução de 25% na
emissão dos gases que contribuem para o aquecimento da atmosfera.
Grande reservatório - Diferente da percepção comum, o
solo é o maior reservatório de carbono do sistema terrestre, possuindo de três
a quatro vezes mais carbono que a própria vegetação. E isso ocorre por conta do
constante depósito de resíduos das plantas (como folhas, raízes e galhos), que
formam a matéria orgânica do solo que, por sua vez, é decomposta por
microorganismos. Esse processo vai
liberar o carbono do solo para atmosfera, que voltará a ser absorvido pelas
plantas para na fotossíntese. Quando esse equilíbrio se rompe, pela degradação,
por exemplo, e a quantidade de carbono na atmosfera aumenta ocorre o indesejado
efeito estufa, responsável pelo aquecimento global.
“Hoje, 30% dos
solos agropecuários do mundo são degradados e, no Brasil, cerca de 50 milhões
de hectares de pastagens estão nessa situação. Portanto, a recuperação dessas áreas,
permite a retomada dos níveis anteriores de carbono, tornando-se assim, um
enorme reservatório. E é por isso também que sua forma de uso é tão
importante”
Como resultado desses encontros, foram articulados grupos
de trabalho, envolvendo empresas privadas, ONGs e pesquisadores, que devem
continuar as discussões remotamente, de olho na importância dos sistemas de
produção de alimentos como estratégia contra as mudanças climáticas.
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