Tatiane Ribeiro
Oportunidades para as comunidades rurais terem renda no
campo e, ao mesmo tempo, conservarem a floresta. Desafios em pauta no Brasil
que têm sido tratados como prioridades pelo Imaflora (Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola). Em sua atuação na região conhecida como
Calha Norte, mais precisamente nos assentamentos do Projeto de Desenvolvimento
Sustentável (PDS), a instituição tem contribuído para estruturar e fortalecer
cadeias de valor com produtos da floresta, engajando comunidades, empresas e
consumidores em relações comerciais baseadas em princípios éticos e
transparentes.
O PDS Paraíso é um desses territórios e que, desde 2009,
tem sido assessorado pelo Imaflora para a aplicação de práticas de manejo
responsável e, principalmente, para o fortalecimento das cadeias de produtos
extrativistas, com destaque para o cumaru.
Localizado no município de Alenquer, no Pará, o
assentamento é atendido pela equipe técnica do Imaflora, por meio do Florestas
de Valor, iniciativa que consolida a importância da conservação ambiental com a
promoção social e econômica das comunidades que vivem na região. O Florestas de
Valor conta com patrocínio da Petrobras e financiamento do BNDES / Fundo
Amazônia, Gordon e Betty Moore Foundation e USAID (Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional).
“Dentro desse PDS priorizamos a cadeia do cumaru, que
após ter sido diagnosticada como um mercado em potencial tem trazido diversos
benefícios para o fortalecimento da comunidade e, consequentemente, do
território”, explica Roberto Palmieri, secretário executivo adjunto do
Imaflora.
Entre os principais benefícios em andamento está a
relação de comercialização direta da comunidade com a Lush, marca internacional
de cosméticos, que tem adquirido o cumaru para a venda de um óleo essencial
diferenciado. As sementes da fruta amazônica dão origem a um óleo de princípios
sedativos, analgésicos e calmantes vendido pela empresa com o nome de “Absoluto
de Cumaru”.
Um dos pontos importantes para a comunidade é que a Lush
chegou até o território por intermediação da iniciativa Origens Brasil, também
do Imaflora, responsável por sensibilizar empresas e criar uma conexão baseada
em princípios de comercialização ética. Ao fazer parte do processo Origens
Brasil, o cumaru é valorizado pela empresa.
“Há três anos começamos essa conversa com a Lush que, por
meio do contato direto com a comunidade, passou a entender a realidade e as
demandas locais, os custos envolvidos em todo o processo, valorizando assim as
sementes e dando segurança para a comunidade fazer negócios de forma
transparente a longo prazo”, afirma Luiz Antonio Brasi, analista de mercado do
Origens Brasil.
Essa relação proporcionou que a comunidade do PDS saísse
do modelo antigo de comercialização instalado na região, que é a venda pelos atravessadores
locais. Além disso, a venda foi realizada com sobrepreço, ou seja, com
benefício em relação ao preço local do cumaru de 23%. Em 2017, foi
comercializada uma tonelada de cumaru.
Segundo Brasi, todo o trabalho do Origens Basil é baseado
na construção de redes colaborativas na qual a comunidade e demais instituições que trabalham com o
Imaflora e os consumidores cooperam com reconhecimento e valorização desse
território.
“Queremos mais do que simplesmente vender o produto,
queremos que o consumidor saiba das histórias que estão por trás de cada um
deles e valorize esses produtos, porque são pessoas que estão ali e que são
fortalecidas a partir do momento que alguém adquire um desses produtos
rastreados no Origens Brasil”, completa.
O fortalecimento vem também por meio de formações
relacionadas às boas práticas do cumaru, como o processo de coleta, de secagem
e qualidade necessária que são realizadas pela empresa. A partir de 2018, a
rede de produtores de cumaru na Calha Norte tende a aumentar com a entrada de
indígenas e quilombolas da região que estão se organizando para também fazerem
parte desse novo arranjo.
Vida comunitária
A coleta do cumaru é realizada em florestas por meio de
um trabalho que envolve toda a família. Os frutos são coletados sem afetar as
árvores e demais espécies, sendo sustentável do ponto de vista ecológico além
de proporcionar renda a essas famílias.
“É uma atividade comunitária: as famílias passam o dia
juntos coletando, o que permite a convivência diária na floresta, onde são
compartilhados e reproduzidos os conhecimentos tradicionais”, pontua Palmieri.
Para realizar a estruturação da cadeia de valor do
cumaru, o Imaflora trabalha em conjunto com a Associação do Projeto de
Desenvolvimento Sustentável PDS Paraíso (Aparaí) e o Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Alenquer.
O Instituto realizou várias expedições de campo e conta
com o trabalho de especialistas em cada área. “Para a adequação da Aparaí, por
exemplo, que precisava emitir notas fiscais e realizar pagamentos, realizamos
um processo longo e minucioso para estarem aptos a comercializar formalmente
com uma empresa”, pontua o secretário executivo adjunto.
A operação produtiva também exige capacitação e diversas
incursões das entidades. Com a formação, os representantes locais da Aparaí
ficaram responsáveis por receber cargas, pagar extrativistas, registrar
informações e também realizarem a secagem e armazenamento das sementes.
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