Atuação do Imaflora na Calha Norte fortalece negócios
comunitários que garantem a sustentabilidade ecológica
A lógica de manter a floresta em pé, além de trazer
benefícios ambientais, demonstra resultados positivos também na área
sociocultural e econômica. Em áreas consideradas prioritárias para a
conservação da biodiversidade, como é o caso da região conhecida como Calha
Norte, no Noroeste do Pará, o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação
Florestal e Agrícola) desenvolve estratégias para a conservação dos recursos
naturais e dos povos que habitam a região amazônica.
Identificado como um dos maiores corredores de áreas
protegidas de floresta tropical do mundo, o território de aproximadamente 24
milhões de hectares foi considerado uma das áreas vulneráveis a invasão de
grileiros, posseiros, para o desmatamento ilegal e avanço da agropecuária,
principalmente a partir da criação da rodovia BR 163, que liga Cuiabá a
Santarém.
¨Nessa época, em
apoio ao governo do Estado do Pará para
criar Unidades de Conservação Estaduais (UCs), o Imaflora conduziu junto com o
Imazon e Conservação Internacional as consultas públicas necessárias para
identificar quem eram os atores que mais seriam afetados ou que mais poderiam
afetar as UCs, criando assim um espaço de diálogo¨, conta Léo Ferreira,
coordenador de projetos do instituto.
Como resultado desse processo foram criadas as Florestas
Estaduais do Paru, do Trombetas e de Faro, a Estação Ecológica do Grão-Pará e a
Reserva Biológica do Maicuru. Atualmente, todo o mosaico de áreas protegidas da
Calha Norte, contando com Terras Indígenas e Territórios Quilombolas, tem mais
de 24 milhões de hectares. O Imaflora atua na região por meio do Florestas de
Valor. O Florestas de Valor conta com patrocínio da Petrobras, financiamento do
BNDES / Fundo Amazônia, Gordon e Betty Moore Foundation e USAID (Agência dos
Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
¨Nos primeiros seis anos de atuação ficamos focados no
apoio à gestão UCS, principalmente, no apoio a criação e funcionamentos dos
conselhos gestores, que são instâncias de governança dessas áreas com
participação da sociedade¨, explica Léo.
Cadeias da sociobiodiversidade
Após essa etapa, já em 2009, o foco do trabalho do
Imaflora passou a ser sensibilizar as comunidades que estão nos acessos dessas
UCs, com o objetivo de criar uma barreira de proteção às áreas ecológicas e,
assim, direcionar o desenvolvimento desse território com base em práticas
sustentáveis a fim de garantir a conservação dessa porção de floresta
Amazônica.
¨Trabalhamos sempre com foco no fortalecimento da
participação da sociedade local, o que, a partir de 2012, viabilizou ações
direcionadas pelas próprias comunidades que estavam interessadas também na
geração de renda¨, afirma Léo. ¨A partir de então começamos a desenvolver
atividades sustentáveis no apoio à organização produtiva e na introdução de
técnicas para a produção¨.
Dentro desse contexto, a estruturação das cadeias de
produtos extrativistas passou a ser o carro-chefe da atuação do Imaflora, que
conduz atualmente a facilitação de parcerias comerciais, bem como a implantação
e apoio à operação de agroindústrias. O trabalho inclui também o apoio técnico
para comercialização de produtos locais para a alimentação escolar e a
implantação de marcenaria comunitária, de viveiros de produção de mudas
florestais, de sistemas agroflorestais e o incentivo a roça sem fogo.
¨Por meio desse trabalho conseguimos garantir que os
povos da floresta possam continuar vivendo sem ter que deixar suas origens para
morar na cidade em busca de renda¨, pontua o coordenador. ¨Esses povos sofrem
constantemente assédio para usos predatórios dos recursos naturais e viabilizar
geração de renda que valorize a floresta em pé atrai esses povos para ajudar na
conservação da floresta¨.
Desafios e conquista
Os desafios de trabalhar em uma área extensa e diversa
também são amplos. Problemas com a logística, baixa escolaridade, assistência
técnica insuficiente, além do trabalho com cadeia de produtos que envolve
desconhecimento social sobre o papel do extrativismo e da produção
agroecológica para a conservação das florestas. Esses são alguns dos desafios
enfrentados pelo Imaflora.
Os resultados do trabalho têm se tornado cada vez mais
visíveis. Segundo o coordenador, nos anos de 2017 a 2018 as ações do projetos
implantados proporcionaram cerca R$ 700 mil de renda direta para as populações.
Outro ponto positivo é a introdução de produtos locais na alimentação escolar
das escolas quilombolas desde 2016, proporcionando melhora nutricional na
merenda e aumento de renda.
¨Observamos também por imagens de satélite que houve uma
contenção do desmatamento na região¨, aponta Leo. ¨Na área comercial, em cinco
anos a organização coletiva da cadeia da copaíba conseguiu a elevação do preço
em 150% em relação ao início do trabalho¨.
Os agricultores também foram beneficiados com
regularização e formação. Os dados do instituto aponta que mais de 300
agricultores passaram a ter a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), o que
viabiliza o acesso a vários programas de políticas públicas.
¨O nosso intuito nos próximos anos é continuar o
fortalecimento e a estruturação de novas cadeias, consolidando empreendimentos
comunitários e negócios de impacto socioambientais, que conservem a floresta em
pé e gerem autonomia às comunidades¨, afirma Léo.
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