São Paulo, 11 de novembro de 2019 - O setor agropecuário
brasileiro apresentou uma ligeira queda nas emissões de gases do efeito estufa
em 2018, em relação ao ano anterior. Foram emitidas 492,2 milhões de toneladas
de CO2e no ano passado, comparadas a 495,9 milhões de toneladas em 2017. O
número reforça a tendência de queda registrada desde 2016, mas ainda é
insuficiente para reverter o crescimento na última década, de 8,3% (454,3
milhões de toneladas de CO2e em 2008, contra as 492,2 milhões de toneladas de
CO2e emitidas em 2018). O peso do setor agropecuário no total de emissões do
país em 2018 foi de 25,4% (pouco abaixo da participação em 2017, de 25,7%). Os
dados, produzidos pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
(Imaflora), são parte do relatório do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissõese Remoções de Gases de Efeito Estufa), divulgado nesta terça-feira (05/11) pelo
Observatório do Clima.
Parceiro do estudo, o Imaflora realiza os cálculos e
analisa os resultados das emissões do setor agropecuário anualmente. Desde
2016, a agropecuária vem apresentando tendência de queda nas emissões de gases
de efeito estufa. Esta redução, de cerca de 1% ao ano em média, é puxada pela
queda no rebanho bovino, por conta de recordes de abates para exportação. A
pecuária lidera as emissões do setor, com 77%. O gado de corte contribui com
69% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, e o gado leiteiro com 8%.
Na sequência vem o uso de fertilizantes sintéticos, com 6%, a plantação de
arroz, com 2,7%, o gado suíno, com 2,5%.
Sinal amarelo
Apesar da queda total de emissões do setor, em 14 estados
foi registrado um aumento, sobretudo naqueles que concentram a maior parte da
atividade agropecuária, como Mato
Grosso. O estado, que lidera o ranking das emissões agropecuárias, com 12,8% do
total, apresentou alta de 2,7% em 2018. Na maioria dos casos, os estados com
maiores altas são também os que tiveram crescimento do rebanho bovino e do uso
de fertilizantes nitrogenados. No Mato Grosso e Acre, por exemplo, o rebanho
cresceu 2% e 4%, respectivamente, em relação a 2017. Já o consumo de
fertilizantes, que caiu 2% no Brasil, teve alta de 14% no Mato Grosso, 9% em
Rondônia, e 2% no Pará e Amazonas.
Com relação às regiões do país que mais emitiram gases de
efeito estufa em 2018 a partir de atividades agropecuárias, o Centro-Oeste
lidera, com 31%. Na sequência vem a região Sul, com 20%, Norte e Sudeste,
empatadas com 18% e por último o Nordeste, com 13%. "Isso é um sinal de que o setor está se
reaquecendo nestes locais, mas ainda com um uso limitado de práticas de baixo
carbono. Já existem exemplos de boas iniciativas, mas não em larga escala, o
que teria impedido o aumento das emissões nesse locais", afirma Ciniro
Costa Júnior, coordenador de projetos da área de Clima e Cadeias Agropecuárias
do Imaflora.
Melhora de eficiência produtiva
Nos últimos anos, foi observado um aumento da quantidade
da produção de grãos, com uma tendência de aumento nas emissões, mas não na
mesma proporção. A produção de grãos mais que dobrou entre 2005 e 2018,
passando de 110 para 225 milhões de toneladas (segundo dados do IBGE), enquanto
as emissões aumentaram menos de 60%, passando de 35,3 milhões de toneladas
(MtCO2e) em 2005 para 57,0 MtCO2e em 2018. A pecuária também tem conseguido
melhorar sua eficiência produtiva. A produção de carne bovina no mesmo período
aumentou 25%, passando de 6,3 para 8 milhões de toneladas (também segundo o
IBGE), enquanto a emissão aumentou cerca de 5%, de 325,4 milhões de toneladas
em 2005 para 339,7 milhões de toneladas em 2018.
Mesmo com o aumento de eficiência, a produção pecuária
ainda está aquém de seu potencial. "O Brasil ainda possui uma unidade
animal por hectare, quando é possível uma ocupação duas vezes maior",
ressalta Ciniro. "A área poupada poderia ser usada para a expansão da
produção de outras culturas, sem abertura de novas áreas e novos
desmatamentos". O relatório aponta que a meta brasileira prevista no
Acordo de Paris poderá ser alcançada caso o setor mantenha a tendência de queda
das emissões. Para isso, é necessário investir mais para que práticas de baixo
carbono, como o Programa ABC, ganhem escala. O programa, que recebeu apenas 2%
do crédito agrícola nos últimos nove anos, promove a recuperação de pastagens
degradadas, o plantio direto, a integração lavoura-pecuária-floresta e o manejo
de dejetos animais.
"Os números do SEEG mostram que o setor agropecuário
tem melhorado a intensidade de emissão nos últimos anos, mas precisa dar escala
na produção de baixo carbono para cumprir acordos globais e se diferenciar no
mercado internacional. Expandir e verificar os resultados do Programa ABC e
promover assistência técnica para boas práticas são medidas urgentes para
colocar o Brasil nesse rumo", conclui Ciniro.
Sobre o Imaflora
O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
(Imaflora) é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995 sob a
premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas
uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e à gestão
responsável dos recursos naturais. O Imaflora acredita que a certificação
socioambiental é uma das ferramentas que respondem a parte desse desafio, nos
setores florestal e agrícola, com forte poder indutor do desenvolvimento local
sustentável. Dessa maneira, busca influenciar as cadeias produtivas dos
produtos de origem florestal e agrícola, colaborar para a elaboração e
implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer a
diferença nas regiões em que atua, criando modelos de uso da terra e de
desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em diferentes
municípios, regiões e biomas do país.
Mais informações, aqui.
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