Luís Fernando Guedes Pinto
É
senso comum que o domínio da tecnologia de produção nos trópicos é um dos
pilares do sucesso da agropecuária brasileira. Obtemos altas produtividades,
conquistando o posto de um dos maiores produtores mundiais. O nosso sucesso se
deve a uma competente adaptação dos sistemas de produção de monocultivos de
regiões temperadas para os trópicos. Isso foi possível graças a um incrível
desenvolvimento de material genético e um forte uso de energia, seguindo a
cartilha da Revolução Verde: máquinas, fertilizantes e agrotóxicos. Todavia,
discutiremos que a hegemonia da monocultura parece cada vez mais frágil, pois
as lavouras estão se aproximando do limite da viabilidade econômica e causando
alto impacto ambiental.
O
intenso uso de energia tem sido fundamental para "controlar" a
natureza, uma vez que o nosso ambiente natural é diverso. O paradoxo é que o
uso de energia externa se contrapõe ao desperdício de recursos naturais. Nas
monoculturas, energia solar, água e até nutrientes não são tão bem aproveitados
como nos ecossistemas tropicais, onde a produção de biomassa é muito maior do que
nos campos agrícolas.
Optamos
por um sistema de produção que despreza e enfrenta a natureza, para satisfazer
à nossa estrutura fundiária e os interesses econômicos hegemônicos, pois o
monocultivo tem ganhos de escala em grandes propriedades. Hoje se somam à
defesa do sistema as empresas beneficiadas pela instabilidade natural das
monoculturas, como as de pesticidas.
Mas
a expansão e a intensificação da produção agrícola em monocultivos, somadas à
redução dos ecossistemas naturais, têm exigido uma quantidade cada vez maior de
recursos e energia, como na irrigação ou no uso de fertilizantes. Somos o maior
consumidor global de agrotóxicos, pois a cada safra aumenta o número de pragas
e doenças.
A
genuína produção tropical deveria ser inspirada na diversidade, na qual
policultivos, sistemas agroflorestais e rotação de culturas gerariam campos de
produção estáveis, que exigiriam o mínimo de energia e aproveitariam a radiação
solar, a água e os nutrientes com o máximo de eficiência. O Brasil tem todas as
condições para quebrar esse paradigma e desenvolver uma agricultura altamente
produtiva baseada na aptidão e vocação ecológica do ambiente tropical.
Luís
Fernando Guedes Pinto, 42, é
engenheiro-agrônomo, doutor em agronomia e trabalha no Imaflora. Faz parte da
Rede Folha de Empreendedores Sociais.
Fonte: Folha Empreendedor Social
Não da para negar que houveram avanços imensos nos investimentos rurais no Brasil nos últimos 20 anos seja em tecnologia ou equipamentos para agricultura, mas estamos aproveitando apenas uma fração do potencial de produção de alimentos no Brasil, espero que continuem os investimentos.
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