quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Brasil domina a agricultura tropical?



Luís Fernando Guedes Pinto

É senso comum que o domínio da tecnologia de produção nos trópicos é um dos pilares do sucesso da agropecuária brasileira. Obtemos altas produtividades, conquistando o posto de um dos maiores produtores mundiais. O nosso sucesso se deve a uma competente adaptação dos sistemas de produção de monocultivos de regiões temperadas para os trópicos. Isso foi possível graças a um incrível desenvolvimento de material genético e um forte uso de energia, seguindo a cartilha da Revolução Verde: máquinas, fertilizantes e agrotóxicos. Todavia, discutiremos que a hegemonia da monocultura parece cada vez mais frágil, pois as lavouras estão se aproximando do limite da viabilidade econômica e causando alto impacto ambiental. 

O intenso uso de energia tem sido fundamental para "controlar" a natureza, uma vez que o nosso ambiente natural é diverso. O paradoxo é que o uso de energia externa se contrapõe ao desperdício de recursos naturais. Nas monoculturas, energia solar, água e até nutrientes não são tão bem aproveitados como nos ecossistemas tropicais, onde a produção de biomassa é muito maior do que nos campos agrícolas. 

Optamos por um sistema de produção que despreza e enfrenta a natureza, para satisfazer à nossa estrutura fundiária e os interesses econômicos hegemônicos, pois o monocultivo tem ganhos de escala em grandes propriedades. Hoje se somam à defesa do sistema as empresas beneficiadas pela instabilidade natural das monoculturas, como as de pesticidas. 

Mas a expansão e a intensificação da produção agrícola em monocultivos, somadas à redução dos ecossistemas naturais, têm exigido uma quantidade cada vez maior de recursos e energia, como na irrigação ou no uso de fertilizantes. Somos o maior consumidor global de agrotóxicos, pois a cada safra aumenta o número de pragas e doenças. 

A genuína produção tropical deveria ser inspirada na diversidade, na qual policultivos, sistemas agroflorestais e rotação de culturas gerariam campos de produção estáveis, que exigiriam o mínimo de energia e aproveitariam a radiação solar, a água e os nutrientes com o máximo de eficiência. O Brasil tem todas as condições para quebrar esse paradigma e desenvolver uma agricultura altamente produtiva baseada na aptidão e vocação ecológica do ambiente tropical. 

Luís Fernando Guedes Pinto, 42, é engenheiro-agrônomo, doutor em agronomia e trabalha no Imaflora. Faz parte da Rede Folha de Empreendedores Sociais. 




Um comentário:

  1. Não da para negar que houveram avanços imensos nos investimentos rurais no Brasil nos últimos 20 anos seja em tecnologia ou equipamentos para agricultura, mas estamos aproveitando apenas uma fração do potencial de produção de alimentos no Brasil, espero que continuem os investimentos.

    ResponderExcluir