sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Florestas de Valor: a bioeconomia que gera renda e mantém a floresta em pé

Além de abrigar a maior biodiversidade do planeta, a floresta amazônica abastece atividades econômicas de baixo impacto ambiental, que impulsionam o desenvolvimento de comunidades extrativistas de forma sustentável. No Brasil, a economia de produtos florestais não madeireiros movimenta mais de R$ 1,5 bilhão por ano, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A coleta de produtos encontrados no interior da floresta, como castanha, açaí e babaçu, garantem a subsistência de mais de dois milhões de pessoas no País.

É na valorização desse tipo de atividade econômica que acredita o Florestas de Valor, programa desenvolvido pelo Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, que estimula a criação de cadeias produtivas sustentáveis dentro do mosaico de áreas protegidas da Amazônia brasileira, gerando renda e conservando a floresta.

Uma das iniciativas que ajuda a movimentar esta bioeconomia é desenvolvida pela Associação de Mulheres Produtoras de Polpa de Frutas (AMPPF) de São Félix do Xingu, município do Sudoeste do Pará. Na cidade, foram implantados sistemas agroflorestais (Safs), que regeneraram áreas degradadas do bioma amazônico, recuperaram a fertilidade do solo e ofereceram um novo tipo de receita: a venda de polpa de fruta. Este ano, com apoio do Imaflora, as mulheres ganharam um incentivo para aumentar a sua produção: a implantação de 20 novos viveiros familiares com mudas florestais e frutíferas, como cacau, cupuaçu, acerola, cajá, açaí, manga, graviola, maracujá, goiaba e tamarindo.

“Essa iniciativa do Florestas de Valor acontece dentro de espaços abertos há mais de 20 anos e seu propósito é estruturar e fortalecer cadeias de produtos não madeireiros, para que essas áreas e os seus entornos contribuam para o desenvolvimento regional e proporcionem condições dignas às populações amazônicas”, explica Eduardo Trevisan, gerente de projetos do Imaflora.

A AMPPF, que tomou corpo jurídico em 2012, foi gestada pela ADAFAX (Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu), que produziu um levantamento de mercado, potencial comercial, preferência de sabores e cotação de valores para a produção de polpas. A partir dessa avaliação, foi mapeada uma política pública de incentivo à produção local: o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O PNAE determina que, no mínimo, 30% dos itens da merenda escolar local sejam adquiridos de agricultores familiares, o que gera uma demanda fixa de diversos gêneros alimentícios, incluindo a polpa de fruta.

  • Coleta de produtos encontrados no interior da floresta, como castanha, açaí e babaçu, garantem a subsistência de mais de dois milhões de pessoas no País. Crédito: Aloyana Lemos

Em 2018, cada família comercializou 500 kg de polpa e recebeu cerca de R$ 8 mil. Já em 2019, o montante alcançado pelas 16 famílias produtoras chegará a cerca de R$ 140 mil, com a comercialização de 9.724 kg. A associação reúne produtoras artesanais da comunidade de Maguary, Tancredo Neves e Nereu, que ficam num raio entre 20 e 50 km de distância de São Félix do Xingu.

Para as mulheres, a criação da AMPPF foi um caminho para a independência financeira, afirma Celma de Oliveira, analista de projetos do Imaflora. “Antes, as mulheres só participavam das etapas que ocorriam dentro das suas propriedades e, hoje, elas assumiram todos os processos de administração, produção e comercialização, empreendendo e melhorando a qualidade de vida das suas famílias, conseguindo adquirir bens e serviços por conta própria e sonhando com possibilidades cada vez maiores”, comenta.

Maria Helena Gomes, 27, é uma das agricultoras que participa da AMPPF. Ela conta que no início o projeto era uma complementação de renda das famílias e uma proposta para dar independência às mulheres. Entretanto, com o tempo se tornou a principal fonte de renda e de sustento das famílias. “Com mão-de-obra totalmente familiar, cada família produz em casa e tudo é feito de maneira artesanal. Passamos por cursos de capacitação para aprender a fazer o processamento adequado das frutas com todos os cuidados de higiene e de saúde”, afirma.

A AMPPF teve apoio da CAMPPAX (Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu), que concedeu por 10 anos, em regime de comodato, um ponto comercial para a entidade. Os recursos da reforma do imóvel e alguns insumos foram cobertos por recursos do projeto Fronteiras Florestais, além do programa Usinas de Trabalho do Consulado da Mulher, entre outras iniciativas. Além do trabalho com as mulheres, o Imaflora desenvolve, em São Felix do Xingu, atividades envolvendo mais de 200 famílias nos eixos de produção sustentável de cacau, empreendedorismo local e educação rural.

Florestas de Valor

O Florestas de Valor fortalece as cadeias de produtos florestais não madeireiros, dissemina a agroecologia para que as áreas protegidas e seu entorno contribuam para o desenvolvimento regional, proporcionando condições dignas às populações locais e conservação dos recursos naturais. Atua na conservação da floresta nas regiões da Calha Norte do Rio Amazonas, na Terra do Meio e no município de São Félix do Xingu, fomentando atividades produtivas e oportunizando a geração de renda na Amazônia Legal brasileira.

Imaflora

O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora – é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995, que nasceu sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e a uma gestão responsável dos recursos naturais. Mais informações: www.imaflora.org

Mais informações à imprensa:
Bruno Bianchin Martim | bruno.bianchin@imaflora.org

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